sábado, agosto 08, 2015

TRAJES DE FESTA – POMBAL – BEIRA LITORAL


A imagem que vos apresento retrata três figuras femininas e uma masculina em trajes de festa da região hoje conhecida como Pinhal Litoral, outrora Beira Litoral.
Não querendo efetuar uma descrição exaustiva destes trajes, destaco aqui duas peças.
Em primeiro lugar a Saia de Costas, que era utilizada como agasalho pelas mulheres e que possui um corte muito semelhante às saias de fora.
A outra peça que destaco é a jaqueta de pelúcia utilizada pelo homem, provavelmente com alamares, que revela poder económico já que estas eram bastante caras.
Concluo com uma chamada de atenção para a encenação da imagem. O casal conversa enquanto outras mulheres, amigas ou familiares da rapariga, se mantêm por perto. Eram assim os namoros antigamente, vigiados e com uma distância de segurança entre homem e mulher “não fosse o diabo tesselas”.

quarta-feira, agosto 05, 2015

CAMISOLA DO PASTOR DA SERRA DA ESTRELA


Rancho Folclórico Os Pastores de São Romão
Antigamente as grandes famílias de pastores, costumavam mandar fabricar, com a lã das suas ovelhas, grandes peças de surrobeco, de saragoça preta, de saragoça castanha – escura e de xadrez (raxa), que depositavam nas alfaiatarias, onde mandavam fazer os fatos para toda a família.
 
Em geral, cada pastor tinha sempre um fato domingueiro, um de surrobeco, uma camisola de xadrez, com aplicações nos bolsos e nas mangas, hoje chamada “casaca de pastor” com rendilhados, que se vulgarizou, alguns coletes de vários feitios e uma capa de um pano mais escuro e mais fraco.
 
Por vezes a camisola, que hoje chamam “o casaco de pastor”, não possuía rendilhados a preto, nem botões de metal amarelo, apenas uns vivos pretos nos bolsos e nas mangas e botões de massa ou plástico para apertar á frente.
 
Esta peça acentuava a identidade do pastor, pois quando decorada, que era toda trabalhada com tecido preto, aplicando-se desenhos diferentes de família para família.
 
Esta camisola está hoje muito divulgada e é a imagem de marca dos pastores da Serra da Estrela.

Fig.1

Datação: XIX d.C. - XX d.C.
Matéria: Tecido de lã axadrezado padrão branco e castanha (raxa)
Dimensões (cm): altura: 61; largura: 160;

Camisola de tecido de lã axadrezado: fundo de cor creme cortado por listas ortogonais de cor castanha escura.
FIG 1

Aberta ao centro, do decote redondo até à extremidade inferior, fechando por meio de cinco botões de plástico de cor preta ou castanha escura.

Na aba esquerda, da extremidade superior da abertura, parte uma tira de tecido de cor preta que percorre o perímetro do pescoço, alargando-se em espessura. Termina na extremidade superior da aba direita, descendo daí pela abertura, em forma de peitilho.

O peitilho é feito de dois panos lado a lado espaçados entre si. O da esquerda contém quatro das casas; apresenta três espaços recortados em espécie de triângulos. O pano mais à direita é afunilado e apresenta ao centro três espaços cortados, muito finos, longitudinais, sendo que o superior forma espécie de "V". Apresenta do lado direito, à altura do terceiro e quarto botões, entre a extremidade inferior do peitilho e as costas da camisola, um bolso de formato retangular. O cós é de tecido de cor preta, de formato pentagonal, de ápice invertido. Apresenta ao centro uma casa orientada no sentido longitudinal, que fecha por meio de um botão de plástico de cor preta, cosido no interior do bolso, à camisola.

As mangas são muito retalhadas, sendo que alguns destes retalhos apresentam um outro interior do mesmo tecido da camisola, que os forra. A extremidade inferior das mangas apresenta vestígios de guarnição com tecido de igual qualidade ao do peitilho e do cós do bolso.

Proveniência: Seia / Sabugueiro

 
Fig.2

Datação: XIX d.C. - XX d.C.
Matéria: Tecido de lã axadrezado padrão branco e castanha (raxa); Metal
Dimensões (cm): altura: 73; largura: 104;
FIG 2

Camisola de tecido de lã axadrezado: fundo de cor creme cortado por listas ortogonais de cor castanha escura.
 
A zona do pescoço é de corte redondo. Daí, um pouco chegada à esquerda, segue a abertura da camisola, que se estende à extremidade inferior desta.
 
Apresenta aplicação de tecido de lã de cor preta, que parte da zona da ombreira direita, contorna o pescoço e desce justaposta à aba direita da abertura, afunilando até cerca de um palmo da extremidade inferior da camisola. Forma-se assim o peitilho.
 
O peitilho é ponteado a linha de cor preta. É de limites recortados em "ziguezague". O seu interior apresenta espaços recortados, formando padrões geométricos. Na aresta lateral direita, apresenta, dispostos no sentido da altura, cinco botões metálicos, de cor dourada em forma de disco, meramente ornamentais. A aresta lateral esquerda apresenta cinco casas que permitem o abotoamento da abertura da camisola por cinco botões presentes na aba oposta. Estes botões são semelhantes aos descritos anteriormente. Na zona do peito, do lado esquerdo, justaposto ao peitilho, um pequeno bolso de formato quadrangular de fundo de vértices arredondados. Os contornos do bolso são guarnecidos com um ponteado executado a linha de cor preta. Apresenta cós com uma aplicação do mesmo tecido preto, de limites recortados. Tal aplicação é também recortada no interior formando padrões geométricos. Junto à extremidade inferior do peitilho, de cada um dos lados da abertura, surge um bolso largo, que desce quase até à extremidade inferior da camisola. É de iguais características ao descrito anteriormente.
 
As mangas apresentam no canhão, igual aplicação a toda a volta de tecido preto, também interiormente recortado. O canhão contém uma pequena abertura, que pode ser fechada por meio de um botão semelhante aos do peitilho.

Proveniência: Gouveia / Folgosinho

RAXA - Tecido de xadrez branco e castanho, que era utilizado na confeção da camisola. O tecido de raxa, não era pisoado, uma vez que o casaco era para ser usado por baixo da capa.
Rancho Folclórico Os Pastores de São Romão

Fonte: Museu Nacional de Etnologia

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