sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Gabão – Traje de Pescador

António Nabais in “O Traje do Litoral Português”, escreve:
“No traje do litoral, existem traços comuns ao longo de toda a costa marítima portuguesa. Esta característica reflecte a mobilidade dos marítimos, nomeadamente dos pescadores.”…”Numa leitura imediata da iconografia (gravura, desenho, pintura e fotografia) costeira do século XIX e inícios do século XX, verificamos existirem mais semelhanças do que diferenças.”
Um destes exemplos é o gabão, muito utilizado pelas comunidades do litoral, de Caminha a Vila Real de Santo António.
No mar, todos os agasalhos eram poucos, pelo menos no tempo de espera, pelo que além da camisa e da camisola, o pescador envergava um casaco muito velho ou o gabão. Este é um traje para o trabalho no mar, mas também, de luto, como na Póvoa do Varzim ou na Nazaré.
Muito embora se possa encontrar este agasalho em várias regiões do país, genericamente, o seu feitio mantém-se semelhante.
O Gabão era feito de burel, surrobeco ou briche. Apertava com botões ou alamares de prata, um cabeção cobria os ombros e as costas e o capuz protegia a cabeça do vento frio. O tamanho varia, sendo mais comprido e amplo na costa norte até Lisboa e mais curto na costa algarvia.
O gabão usado na Póvoa do Varzim possuía uma característica que os distinguia das restantes regiões, era forrado de branqueta, que também servia para avivar as bandas, cabeção e capuz.
O gabão chega à região de Lisboa trazido pelos pescadores da costa Norte, que se deslocavam sazonalmente à foz do Tejo para a pesca do sável, e que se foram fixando em bairros tão típicos como a Madragoa.
Actualmente, algumas confrarias enólogas e gastronómicas recriaram o gabão e utilizam-no como traje cerimonial.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Morraceiro – Algarve

A recolha da morraça era um recurso de sobrevivência muito comum no litoral algarvio.
A morraça é uma variedade de alga abundante nessa zona costeira e era utilizado como adubo das terras e na alimentação dos animais.
Funcionava como uma actividade subsidiária, sobretudo nos períodos de defeso em que a actividade pesqueira não podia ser exercida, para complementar o rendimento familiar que muitas vezes era minguado. A apanha da morraça era um trabalho essencialmente masculino. De forquilha em riste, o homem recolhia as algas que as ondas lhes lançava aos pés. Após ser recolhida nas ilhas do Sotavento, a morraça era transportada em barcos e, a partir das localidades costeiras, distribuída ao lombo de animais ou em carroças por todo o Algarve.

O homem do mar veste alça de fazenda grossa, de surrobeco cinzento, arregaçadas até aos joelhos, que eram apertadas na cintura com um cordel de sisal entrançado.
As ceroulas, ou calcetas, de tecido de lã azul claro, formando xadrez, chegando à altura da canela.
Anda sempre descalço, no rigor do Inverno usa tairocas de sola de madeira ou tamancos com presilhas de cabedal e meias de lã.
Na cabeça usa o barrete redondo com uma pequena borla, muitas vezes feito com os restos de lã de várias cores. Posteriormente começou a usar o boné de pano grosso, com pala nas orelhas e que aperta debaixo do queixo.
A camisa é de flanela de xadrez de cores garridas, de colarinho chanfrado e mangas compridas.
Para proteger do frio usavam um Gabão de tecido de soriano com capuz, aberto na frente, com mangas compridas, atado com um cordel à cintura.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Traje de Capotilha - Minho

Designado por "traje de capotilha" ou "do Vale do Cávado", o "traje da senhora" foi usado até ao início do século XX em diferentes terras do Minho, com predominância no vale do Cávado, de onde tomou o nome e é considerado como o traje mais representativo da cidade de Braga, não sendo embora o único.
Caracterizado pela cor garrida, este traje usado nas romarias é constituído por uma capotilha, em vermelho vivo para as moças e em azul escuro ou preto para as casadas e mais idosas, guarnecida de veludo, cordões, cetim e vidrilhos, com grandes pontas que, cruzando sobre o peito, iam atar ou prender nas ancas.
Sob a capotilha deixava ver a farta gola de renda da camisa branca de linho, bordada a branco, no peito, ombros e punhos. Sobre a camisa usava um colete de tecido de cor ou linho, bordado a cordões ou lãs, com grandes decotes e "rabos".
A saia de baetilha preta, possuía uma grande roda, guarnecida de veludo liso ou lavrado, fitas, cetim e vidrilhos.
Do conjunto, ressalta o colorido do avental tecido em cores vivas, com tirados de lã, debruados a veludo.
Na cabeça, um lenço branco, em cambraia ou tule, bordado, cujas pontas se prendiam ou atavam sobre o colo.
Calçava meias brancas, rendadas, de linho ou algodão; usaram-se, também meias riscadas a branco e vermelho e chinelas pretas, pespontadas a branco.
Como é hábito da região a abundância de ouro adorna as orelhas e o peito.
Preso cintura trazia o "lenço de pedidos", fartamente marcado a ponto de cruz, com quadras ou frases amorosas.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

O ciclo da lã

Desde sempre o povo deitou mão à matéria-prima que o rodeava adaptando-a às necessidades, nomeadamente para se proteger do frio. Em regiões onde predomina a pastorícia de ovinos e caprinos, a lã é um recurso inestimável para o fabrico de vestuário.
A mecanização simplificou, acabou até por eliminar, processos de produção, tecidos e modos de vida, que hoje, só os mais idosos sabem contar.
A transformação da lã em peça do vestuário passa por várias fases.
A tosquia, normalmente feita em Maio ou Junho, consoante o calor se faz sentir mais cedo ou mais tarde, consisto no corte da lã aos animais com o auxílio de uma tesoura.
A tosquia inicia-se pelos membros inferiores do animal passando ao peito e barriga terminando no lombo. A lã retirada de cada animal dá-se o nome de velo, o qual individualmente é enrolado, ficando para o exterior a parte que se encontrava junto à pele.
Depois da tosquiada, a lã é muito bem lavada, sempre que possível com água tépida, e posta a secar em local apropriado.
A seguir é carpiada, tarefa que consisto em desfazer os nós nela existentes e eventualmente retirar algumas impurezas.


Posteriormente é cardada com as cardas (instrumento com pegas munido do arames curtos e finos) do modo a desenriça-la usando para o efeito o auxílio de uma pequena quantidade de azeite (borrifava-se a lã com o azeite antes de a colocar nas cardas).
À medida que vai sendo cardada é colocada uma sobre a outra, geralmente este trabalho era executado por um homem - o cardador - que se deslocava às casas que possuíam lã para o efeito.

Vem depois a fase da fiação, operação artesanal outrora muito vulgar que chegava a ser motivo para prolongados serões. Com auxílio do fuso a lã é transformada em fio. A fiandeira mune-se de um pedaço de lã que segura com a mão esquerda. Dela puxa um pedacinho que cuidadosamente vai alongando. Coloca-o no friso do fuso (na extremidade mais fina) seguro na mão direita manuseando-o com o polegar e indicador ajudados pelos médio e anelar no sentido do movimento dos ponteiros do relógio. Aos poucos, vai obtendo um fio torcido. Desprende-o do friso e enrola-o na outra extremidade do fuso recomeçando a tarefa. À lã já fiada e enrolada na parte mais larga do fuso dá-se o nome de maçaroca, a qual é depois dobada em novelos. Na fiação da Iã, regra geral, não se utiliza a roca.

Nesta altura a lã está pronta para seguir nova rumo, desta feita a urdidura. É a operação que antecede a tecelagem e que consiste em preparar os fios para dispor no tear, ou seja: paralelos entre si de igual comprimento e separados nas duas séries que, descendo ou subindo cada uma alternadamente, operam o entrecruzar do fio que passa entre elas. A urdidura é preparada num aparelho especial, que consiste numa armação de prumos, a uma distância de 3 a 4 metros onde estão fixos tornos nos quais passam os fios.
Feita a urdidura, monta-se no tear e procede-se a tarefa da tecelagem, utilizando para o efeito também lã.
Estas operações podiam ser feitas com lãs de cores diferentes, por exemplo, urdir com lã branca e tecer com lã preta ou castanha. Ao tecido assim obtido chamava-se sarrobeco e era destinado sobretudo à confecção de calças masculinas.

A lã depois de tecida e retirada do tear apresenta uma textura pouco resistente, "muito rala", a mandil. Há, pois, necessidade de a fazer passar por outra etapa a pisoagem, para garantir consistência e durabilidade que, de outro modo, não possuiria.
A pisoagem era feita no pisão, um engenho artesanal pesado, movido a água e em vias de extinção. O tecido era batido durante o tempo bastante por dois enormes martelos ou malhos de madeira, pesando cada um mais de 50 quilos, molhado com água a ferver, transformava-se numa pasta feltrosa, homogénea, espessa e forte. Ao tecido assim obtido dá-se o nome de burel.
O pisoeiro submetia o sarrobeco a pisão inteiro, meio pisão ou apenas quarto de pisão, consoante o fim a que se destinava. Para as saias a conta era meio pisão, que a pele das pernas apesar de castigada pelo trabalho não suportaria a agressão de um burel duro como tábua, o quarto de pisão bastava para o avental.Com este tecido fabricavam-se calças, coletes, saias, aventais e as tão afamadas capuchas, largamente utilizadas em toda a Beira Interior.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Pelico e safões

Desde o princípio dos tempos o homem a utiliza peles de animais para se cobrir. Servia de protecção contra os rigores do clima e consistia uma camuflagem natural.
Resistindo ao tempo permanece na cultura portuguesa o uso do pelico e dos safões em pele de borrego, sobretudo no Alentejo e regiões serranas da Beira.
O pelico pode apresentar de uma estrutura idêntica a uma casaca com aba comprida ou o formato de um casaco sem mangas. Em qualquer dos casos os cortes ajustam-se à dimensão da pele do animal e à medida do corpo do seu utilizador. As cavas são cortadas de forma a ultrapassarem o ombro, protegendo as espáduas. Existem modelos com ou sem gola e são geralmente abotoados com botões metálicos.
Os safões consistem em dois meios-aventais, cavados, de forma a contornarem as pernas.
Desta forma o pastor protegia-se dos ventos gelados do Inverno.


No Alentejo, por debaixo do pelico e safões, usava camisa de riscado, lenço ao pescoço e chapéu preto, calça de cotim e botas grosseiras.
Por vezes nas calças usava pequenas tiras de sacos de serapilheira para proteger o fundo das calças.
Como utensílio de trabalho usava o cajado (um pau de madeira rija como o marmeleiro), que, no caso dos boieiros, possuía uma ponta mais grossa, no manejo das ovelhas e borregos utilizava uma vara comprida com um gancho à ponta a que se dava o nome de gravato e servia para apanhar os animais pelas patas.
Às costas transportava o almoço, num tarro de cortiça, e o azeiteiro (corno), por vezes se a deslocação era grande levava alforges com mantimentos.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Traje feminino domingueiro de Penude - Lamego


Apesar da proximidade com a cidade de Lamego este traje mantém um cariz popular, pouco influenciado pela moda citadina. Os materiais utilizados são simples mas demonstram algum poder económico da sua utilizadora. Este traje é composto por lenço de seda preto e amarelo, blusa de linho branco, adornada de pequenas rendas brancas, com uma aba sobre a cinta, saia de fazenda de lã preta e avental da mesma cor bordado a azul com motivos florais. Calça meia de renda branca e chinelas de couro pretas. No braço transporta um magnífico xaile de merino preto com bordados e franjas de fita.