sexta-feira, agosto 18, 2006

Côca, Biuco e Capelo

A Côca, o Biuco e o Capelo são três trajes de diferentes regiões, Alto Alentejo, Algarve e Ilha Terceira (Açores), no entanto, apesar da distância geográfica existem muitas semelhanças entre eles e uma história comum.

Sabemos hoje que os etruscos e os gregos vestiam o himation, ou seja, o manto, com o qual cobriam a cabeça. Possivelmente imitavam um costuma mais antigo. O Cristianismo adoptou para a imagem da Virgem o uso do manto à moda etrusca, isto é, sobre a cabeça. São Paulo introduz o costume das mulheres cobrirem a cabeça para que se distingam das mulheres descobertas ou meretrizes. Entrar na igreja com a cabeça coberta era sinal de respeito, submissão e humildade perante Deus.
Por toda a Europa surgiram diversas peças de vestuário que cobriam por inteiro o seu utilizador(a), nomeadamente, em França, Alemanha, Dinamarca, Itália, Espanha e Portugal.
Não se sabe quando este tipo de indumentária foi introduzido em Portugal, no entanto, podem-se encontrar registos da sua utilização desde 1609, no reinado de Filipe II, e existem autores que defendem a sua origem árabe.
Sabe-se no entanto, que a sua utilização abrangia a quase totalidade do território nacional, mas apenas no Alto Alentejo, no Algarve e nos Açores, esses trajes eram ainda utilizados até meados do século XX.
A sua utilização destinava-se a impedir o contacto da mulher com os transeuntes que com ela se cursassem na rua, ocultando a sua identidade. Para além de isolar a mulher do mundo exterior, permitia-lha também alguma liberdade, já que não sendo identificável podia movimentar-se livremente oculta dos olhos castradores da moralidade alheia.

O que são a Côca, o Biuco e o Capelo?

Estes três trajes femininos possuem pequenas variações, ou particulares alterações regionais, no entanto, a sua forma elementar baseava-se numa mantilha, com ou sem véu, amplamente distribuída, de norte ao sul do país, e que teve a generalizada denominação de biôco (ou biuco no Sul e rebuço no Norte).

Genericamente compõe-se de uma capa, mais amplas e compridas nos Açores e Algarve que no Alentejo, em cuja cabeça era coberta de forma a impedir que se visse a cara da sua utilizadora. É a forma como a cabeça é coberta que distingue os três trajes.


Côca –Alto Alentejo

As côcas terão sido um traje de noiva na nossa região, na segunda metade do século XIX. A tradição oral também afirma que a dimensão e colocação do véu tinha três posições distintas, consoante a classe a que pertencia a nubente.
Mas, como traje de noiva acabou por cair rapidamente em desuso enquanto tal, passando a ser fundamentalmente moda nas mulheres aristocratas ou da alta burguesia de todas as idades, quando estas saíam à rua para assistir a actos religiosos ou nas visitas, tão habituais nestas classes sociais entre finais do século XIX e princípios do XX.
Usavam uns biôcos, pegados a uma espécie de capa curta e que eram cobertos, no alto, por uma renda larga, que caía pelas costas. Na frente o biôco era armado em papelão, ou tarlatana, para se manter aberto. Em alguns, a renda era colocada, como já disse, caindo do alto da cabeça sobre as costas, outros porém, era posta em sentido contrário, isto é, sobre a cara. Completava o trajo uma saia de merino.
José Leite de Vasconcellos, observa que este seria o «trajo clássico de se ir à festa do Sacramento, que durava de quinta-feira do Corpo de Deus até à segunda-feira seguinte». O célebre investigador apresenta uma testemunha ocular que, entre os anos de 1862 e 1866, terá visto as mulheres assim embiocadas, e explica que este processo só era possível mediante a utilização de «um papelão curvo que encobria a cabeça, como as mantilhas de Mondim, coberto de preto e com pano nas costas».

O biôco (ou biuco) – Algarve

Raul Brandão escreve a propósito do biuco no seu livro "Os Pescadores", em 1922:
" Ainda há pouco tempo todas (as mulheres de Olhão) usavam cloques e bioco. O capote, muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça, tornava-as impenetráveis.
É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce... Desaparecem e deixam-nos cismáticos. Ao longe, no lajedo da rua ouve-se ainda o cloque-cloque do calçado - e já o fantasma se esvaiu, deixando-nos uma impressão de mistério e sonho. é uma mulher esplêndida que vai para uma aventura de amor? De quem são aqueles olhos que ferem lume?... Fitou-nos, sumiu-se, e ainda - perdida para sempre a figura -, ainda o som chama por nós baixinho, muito ao longe-cloque..."
Trata-se de uma capa que cobre inteiramente quem a usava. A cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam “ursos com cabeça de elefante”
Oficialmente a sua extinção ocorreu em 1882 e por ordem de Júlio Lourenço Pinto, então Governador Civil do Algarve, foi proibido nas ruas e templos, embora continuasse a ser usado em Olhão até aos anos 30 do século XX em que foram vistos os últimos biocos.

O Capelo – Açores

À semelhança de outras regiões também a mulher açoriana usava agasalho capotes com capelo, diferindo o seu feitio de ilha para ilha.
Leite de Vasconcelos visitou os Açores no Verão de 1924 e testemunhou o uso de mantos e capotes pelas mulheres da ilha Terceira e do Faial. Com efeito até meados do século XX era frequente encontrar nos meios citadinos mulheres envoltas no seu capote preto e capelo armado.
Convém distinguir o manto do capote, o primeiro é uma saia comprida e rodada de cor preta, o segundo, afigura-se como uma capa muito ampla, mais farta lateralmente que nas costas.
No caso da utilização do manto, o capelo era armado com cartão e atado pela cintura, a mulher segurava-o com as mãos de modo a encobrir o rosto. Com o capote, o capelo era utilizado sobre os ombros. Neste caso, estamos perante um amplo capuz suportado por um arco de osso de baleia, sendo a sua rigidez conferida pelo forro de cânhamo.

Estamos assim perante três trajes, que para além da sua função de abafo, remete o papel da mulher para a total exclusão da sociedade, uma vez que, completamente coberta jamais alguém descobriria a sua identidade.

Dos três trajes apenas o dos Açores é ainda hoje identificado pelo público em geral, já que se tornou num símbolo dessa região e é amplamente divulgado pelos ranchos folclóricos. Quanto aos restantes, correm o risco de caírem no esquecimento e no ostracismo, já que não sendo bonitos ou ricos, não são mostrados pelos grupos das suas regiões de origem.

Bibliografia:
PITA, António, Côca ou Mantilha - Século XIX - Uma Traje de Festa e de Solenidade do Alto Alentejo – Câmara Municipal de Castelo de Vide, Secção de Arqueologia, Maio1999

Braz Teixeira, Madalena, Trajes Míticos da Cultura Regional Portuguesa, 1994, Museu Nacional do Traje.

Ormonde, Helena, in O Traje do Litoral Português, Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, Câmara Municipal da Nazaré

quinta-feira, agosto 17, 2006

Lenço "de Amor" ou "dos Namorados"


Lenço é simplesmente um pano rectangular de linho, que se trazia nos bolsos, preso à cintura ou escondido no seio ou punhos, nas mãos (como eram bonitos muitos eram roubados por aqueles que mais tarde seriam seus namorados) e mais tarde nas algibeiras, pois o uso destas não tem mais de 100 anos.
No passado este rectângulo de pano começou a receber os primeiros ornatos, feitos da aplicação de rendas e/ou bordados. Essa decoração tornou-se mais abundante conforme a pessoa e as exigências do destinatário, o gosto, a preparação e o tempo disponível de quem os fazia, a moda e até o momento em que iam ser usados.
Seria inicialmente completado com uma pequena bainha, uma renda, um bordado no início muito simples e depois cada vez mais complexo, e as iniciais dos nomes dos seus possuidores.
Especialmente cuidado tinha de ser, naturalmente, o que ia ser colocado no ombro pelos mordomos que transportavam os andores das “Romarias” ou levado na mão a segurar a vela da mordoma ou o ramo da noiva.
Se o lenço se adequava a servir de prenda a ser oferecida como sinal de afecto, o gesto de o oferecer ganhava especial significado quando se destinava a alguns destes usos, e era completado, realçado e glosado com a simbologia dos ornatos escolhidos: os ramos, as flores, que em todos os tempos e lugares conferem encanto e poesia ao mundo do amor, os trevos, as pombas, que lembram a ternura dos amantes, os cães, que representam a fidelidade, os corações, as chaves que os podem abrir ou guardar, as custódias ou os relicários (em que o amor se compara a um valor sagrado), os nomes de ofertantes ou destinatários.
Quando uma jovem era nomeada mordoma, o namorado mandava fazer um lenço com lindos bordados, incluindo juras de amor e de fidelidade, para lhe oferecer no dia da festa. A mordoma usaria essa delicada prenda para segurar a vela enfeitada com que se desfilava na procissão. O mesmo lenço viria a ser usado no dia do casamento para segurar o ramo de noiva, e mais tarde para cobrir o rosto apôs sua morte.

Trajes do Minho

Fala-se muito, por aí, em «traje à moda do Minho», «traje minhota», ou «traje à moda de Viana», «traje à Vianense», «traje à Vianesa» - usadas todas estas expressões como sinónimas particularmente relacionadas com Viana-do-Castelo. Ora, na província do Minho não há, para mulheres, como para ninguém, um só vestuário regional típico e nem sequer o há em Viana-do-Castelo. Dizendo-se "Viana-do-Castelo" há de perceber-se o concelho, e não a cidade, pois, quanto à indumentária, pode-se dizer que nada hoje subsiste nela de local, mas sim pelas Freguesias que lhe ficam ao redor.
«Traje à moda do Minho» ou «à Vianesa» (são estas as formas de dizer mais usadas no país, mas, por terras minhotas, usa-se especialmente a denominação de "Traje à Lavradeira") é um vestuário feminino, de festa, de «grande gala», apenas usado em dias assinalados e por moças de algumas aldeias do concelho de Viana-do-Castelo.
Em Viana-do-Castelo, quando se fala em de "Traje à Lavradeira", sem especificação alguma, entende-se em geral o «vermelho» das lavradeiras de Santa Marta de Portuzelo (na qual há também um belo «traje azul»), não só por ser aquele o vestuário o que mais agrada ao comum dos habitantes, pelo seu colorido quente e variado, mas ainda por ser o que a
indústria caseira e o comércio local mais espalham na região
O traje vermelho ou azul são indistintamente usados pelas raparigas, mas quando casam quase sempre dizem adeus ao vermelho e passam a usar só o azul, quando se querem vestir de lavradeira.
Antigamente quando era divulgado o noivado, e nunca antes para se livrar de humilhação ou falatório se o casamento se desfizesse, a noiva dirigia-se à cidade “botar o ouro”, acompanhada pelos seus futuros sogros. Eram eles que ofereciam aquela que iria ser nora uma designada quantidade de ouro, correspondente às suas possibilidades económicas.
No primeiro domingo após este ritual, a noiva ia à Missa, exibindo o ouro oferecido, e vestindo o traje de lavradeira. Facilmente se detectava uma noiva pelos seus adornos e trajar.
No que respeita aos lenços, deve notar-se que não há em cada aldeia, uniformidade absoluta nas suas cores. O lenço da cabeça poucas excepções costuma apresentar é vermelho, mas, o lenço do peito em Santa Marta costuma ser diferente, é amarelo.

Traje de lavradeira
Sobre a alva camisa bordada de azul, nos punhos, nas frentes e nos ombros, a mulher minhota enverga um colete que exerce a função de espartilho. Os cortes vincam as formas do corpo, a altura do colete e a amplitude das cavas atribuem-lhe grande comodidade, pois permite um melhor movimento dos braços. Por outro lado, a orla do colete segue a linha do diafragma, favorecendo a respiração. O colete é profusamente decorado por bordados policromáticos de gosto barroco. A saia, rodada e de grande amplitude, é marcada por uma larga barra bordada com os mesmos motivos silvestres e românticos do colete. O avental franzido é decorado com “puxados” que recriam um magnífico jardim em relevo. A algibeira reforça a beleza da mulher com a sua forma de coração, tendo como utilização prática o transporte de dinheiro e do lenço.
A mulher minhota calça meias de renda brancas e chinelas de pele bordadas com motivos florais vegetais e geométricos. Na cabeça usa um lenço de fundo vermelho com barra estampada com motivos florais, vegetais e cornucópias

Traje domingueiro masculino (finais do século XIX)
Composto por calça, camisa e jaqueta. A camisa branca é decorada com bordados tradicionais minhotos, com motivos amorosos. A cor vermelha da faixa e dos bordados confere ao conjunto um certa alegria, uma vez que todo o traje é negro. O preto é sinónimo de austeridade, pelo que os trajes de “ver a Deus”, utilizados para ir à missa, são dessa cor. O preto confere ainda severidade e sofrimento, já que simboliza o luto profundo e prolongado.

APONTAMENTOS SOBRE DO TRAJE DE LAVRADEIRA

O Avental – O pintor José de Brito Sobrinho recolhendo-se, doente e desiludido à sua casa natal de Santa Marta de Portuzelo, ali casou com uma habilíssima tecedeira e para aumentar os rendimentos ao casal resolveu criar novos aventais. Pôs de parte os motivos geométricos (antigamente os aventais não apresentavam quaisquer bordados eram muito simples, com o tempo estes apresentam mais riqueza, surge as figuras geométricas como os losangos, triângulos e quadrados) e desenhou flores e folhas a preto, vermelho, verde e amarelo. Não admira que a novidade agradasse, pois os primeiros aventais eram lindíssimos. Após a sua morte, ocorrida em Fevereiro de 1919, outras tecedeiras continuaram o seu trabalho, deram-lhe novas cores, mas conservaram mais ou menos os desenhos por ele idealizados.
Os Lenços – Em 1880 os lenços nacionais foram abandonados por unanimidade, visto serem incomparavelmente menos vistosos que os lenços austríacos, com 4 variantes: vermelho, roxo, verde e amarelo, todos estes com o mesmo tipo de desenho.
O Colete – Naturalmente, o bordado manual dos coletes mais antigos eram simples, cortados em baeta azul, com cinta de veludo preto, apenas debruado a fitilho por meio de cordões, gradualmente vão sendo cada vez mais bordados, a missangas brancas e fios de seda (folhas e flores em especial cravos).
A Algibeira – Num trabalho minucioso, de autêntica paciência as algibeiras passaram abruptamente da forma rectangular para a cordiforme, acompanhando o labor dos coletes.
A Saia – Por volta de 1900, a barra das saias apareceu com a parte superior levemente bordada a branco - uma silva, como lhe chamavam, minuciosa e perfeita, - que, pouco a pouco, se foi alargando e hoje nos aparece como representando grandes malmequeres.
As Chinelas – Chinelas eram de veludo preto, liso ou com um laço. Posteriormente passaram a ser pretas e bordadas a branco ou de verniz.

terça-feira, agosto 08, 2006

Beira Interior

A Beira Interior é caracterizada por um geografia montanhosa, que moldou o modo de vida das suas povoações. Os seus habitantes adaptaram o seu modus vivendi à dureza do clima, dedicando-se a uma agricultura de subsistência nos vales e tendo como principal provento económico a pastorícia efectuada nas montanhas.

A mulher serrana protege-se dos rigores da montanha com uma capucha confeccionada em burel, muitas vezes pela própria utilizadora. Sendo uma das características do traje da região da serra do Caramulo.
O traje é ainda composto por uma saia comprida e rodada e por uma avental, feitos, muitas vezes, no mesmo tecido da capucha, escolhendo para o Verão tecidos como riscado ou chita. Vestia ainda camisa de linho de cor natural, ou algodão.
No Verão, para além do sempre indispensável lenço de algodão, usa um chapéu de palha de abas largas para se proteger do sol.
Calça socos de madeira e carneira, protegendo os pés com meias de lã tricotadas pela própria.
O homem veste fato de cotim e camisa de riscado, faixa preta e chapéu de abas preto, calça botas de carneira.

Varina do Porto

Assim como das de Lisboa, as varinas (vareiras ou bareiras, como são chamadas) do Porto são oriundas do litoral beirão, sobretudo de Ovar ou da Murtosa.
Este traje indica o tipo de trabalho da utilizadora, já que anda descalça ou em chinelas, permitindo grande mobilidade e leveza no andar. Usa a saia comprida e rodada, atada com uma faixa que lhe segura o ventre, onde usa uma algibeira, presa com presilha, que tem como função guardar os proventos da venda. O colete ajustado com atilhos sobre uma blusa ampla, permite adaptá-lo ao corpo, à medida das necessidades. Enverga lenço e chapéu com rodilha, o que lhe facilita andar com a canasta à cabeça. A canastra, que sempre a acompanha, fala-nos do seu conteúdo, o peixe que vende na zona da Ribeira do Porto.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Tricana de Coimbra



Uma da figuras mais conhecidas da Cidade de Coimbra, cantada pelos estudantes, a Tricana fez do xaile a sua peça de luxo, usando-o sobre os ombros ou traçado sob o braço direito.
Os xailes preferidos eram os que reproduziam em tapete decorativos orientais, denominados «xailes chineses».
Veste saia preta de lã, com fitas de veludo; saia de baixo branca, com tira bordada; avental de popelina, blusa de “tubralco”; caixiné; xaile chinês a tiracolo; chinelos pretos.

Traje da Serra da Estrela

A Serra da Estrela é a zona montanhosa alta do país, pelo que o seu rigor climatérico influenciou profundamente a forma de vestir dos seus habitantes.

A mulher serrana protege-se dos rigores da montanha com uma capucha confeccionada em burel, muitas vezes pela própria utilizadora. Na cabeça usa lenço de algodão. O traje é ainda composto por uma saia comprida e rodada e por uma avental, feitos no mesmo tecido da capucha. Vestia ainda uma camisa de linho de cor natural. Calça socos de madeira e carneira.
Este traje representa a venda do leite pelas ruas das vilas e cidades no sopé da Serra.

O burel e o surrobeco eram tecidos grosseiros manufacturados nos teares das aldeias da montanha, aproveitando a lã produzida por essas comunidades.

O traje do pastor é constituído por um conjunto de peças que vai vestindo ou despindo conforme as condições climatéricas. Usa uma camisa de riscado e uma camisola de lã com um padrão branco e castanha (raixa), semelhante a um casaco abotoado lateralmente, com aplicações em sorrobeco preto, calças de surrobeco castanho, botas cardadas e chapéu de aba larga.
Um outro elemento deste conjunto é a capa com capuz, a qual tem reminiscências árabes e medievais. Composta pela conjugação de um amplo capuz em forma triangular, com uma capa circular que cai a partir dos ombros, formando “godets”.

Os Saloios

O termo “saloio”, em português corrente, significa homem rústico, pouco esperto, manhoso e aldeão em sentido pejorativo. No entanto, este termo era aplicado aos habitantes dos arredores de Lisboa, dedicando-se à horticultura cujos produtos iam vender à cidade. São estes saloios que alimentam Lisboa.

A saloia trabalhava quintas, quer no trabalho agrícola, servindo nas casas abastadas ou como lavadeira, nas ribeiras de águas límpidas da região. Esta era a sua função mais conhecida, já que era muito vista em Lisboa trazendo e levando a trouxa de roupa ás freguesas da burguesia.
A mulher saloia vestia de algodão, usando saia comprida, blusa e avental. Denota-se a algibeira, atada à cinta, e o lenço na cabeça.
Podia calçar botinas ou sapatos de carneira.
Para se deslocar a Lisboa, usava uma saia mais nova, de melhor aparência, sobre a outra de uso diário, que no trajecto era dobrada e presa à cintura para que não se estragasse.


O traje saloio corresponde ao de um moço de estrebaria, com a função de cocheiro da família abastada.
Traja calça e colete de cotim com corte simples, camisa de algodão branca e faixa preta. Acompanha esta indumentária uma ampla camisa de algodão estampada de azul e branco, denominada “guarda-pó”, vestida como resguardo para proteger o fato quando trata dos cavalos ou burros.

Douro e Trás-os-Montes

Traje Domingueiro Feminino do Alto-Douro
Este traje compõe-se de blusa, saia e avental de formato semelhante ao traje domingueiro do Minho, sendo de realçar a configuração do colete. As cavas são profundas e o decote generoso, deixando antever o peito da camisa e a forma de ajuste por atilhos remete para a função de espartilho. No entanto, os “rabos” remetem este colete para uma origem barroca. O avental e a saia são decorados com finas rendas e fitas de veludo. O conjunto é acompanhado de um lenço branco e de um chapéu de veludo. Calça meias de renda brancas e chinelas de couro pretas.
A utilizadora deste traje é sem dúvida uma mulher de posses, pois adorna-se com fios, cordões e brincos de ouro e preciosas rendas e veludos, que em contrate com a severidade do negro mostram a figura de uma mulher habituada a gerir os seus haveres.

Traje masculino de Miranda do Douro
Composto por jaleca, calção, colete e polainas de saragoça castanha e preta, adornado por botões metálico ou de madeira. Trata-se de um traje de extraordinário requinte, nomeadamente no corte dos calções, onde a braguilha é encoberta por um alçapão de influência setecentista e a utilização de polainas, hábito que caiu em desuso na segunda metade do sec. XIX. O conjunto é ainda acompanhado por um amplo chapéu de feltro preto e por uma camisa de linho de cor natural.
O seu utilizador seria sem dúvida um homem abastado, pelo que deveria completar o conjunto com uma Capa de Honras de Miranda do Douro.

Alentejo

Trajes de Vila
Trajes de Trabalho

Apanha da Azeitona

Ceifeira

Pastor

quinta-feira, agosto 03, 2006

O Traje do Alentejo

As mulheres que vivem perto das cidades e vilas, mais abastadas, procuravam imitar as modas, seja no penteado, seja na maneira de vestir. A mulher da vila usa saia de fazenda de lã, blusa de algodão de corte cintado. Para a missa usa uma mantilha de renda sobre a cabeça e como abafo um xaile de merino negro bordado, com franjas de fio. Calça meias de renda brancas e sapatos de carneira com botões.
A mulher do campo, que durante a semana se dedicava aos trabalhos agrícolas, aos domingos depois de vir da missa e fazer os trabalhos domésticos, dedicava-se à costura, aos bordados ou a fazer meias. De Inverno refugiava-se à lareira, o centro da casa alentejana, no Verão, aproveitando fresquidão do fim da tarde, sentava-se num mocho (banco) junto à soleira da porta, aproveitando para dois dedos de conversa com a vizinha ou com quem passa.
No campo a mulher usava blusa de chita, saia de riscado atada em jeito de calça com alfinetes, lenço na cabeça e chapéu desabado, meias de linha grossa feitas com cinco agulhas normalmente de cor castanha, roxa ou até vermelha e sapatos grosseiros de atanado. De Inverno para se proteger do frio e da chuva, colocava um xaile ou uma lona pelas costas, atado em volta da cintura para permitir a liberdade dos braços.
O domingo era o pretexto para vestir a melhor roupa, não muito diferente da usada no campo apenas mais poupada pelo uso menos frequente. Nesse dia, a mulher calçava chinelas de atanado grosseiro, meias de linha lisa, um avental de riscado simples sem rendas, e saia de fazenda sem ser fina, a blusa era de tecido de chita gorgorina sem efeitos de renda. Na cabeça usava lenço ou cachiné sem ser o de trabalho.
O traje do alentejano abastado, residente nas vilas ou cidades, tem as suas raízes no traje popular espanhol no entanto o seu corte é mais suave, sendo a jaqueta e o colete mais compridos nas costa.
Este traje considerado domingueiro ou de casamento, usava chapéu de aba larga, camisa branca com pregas sobre o comprido, colete com uma ordem de botões muito aberto e jaqueta com três bolsos, um pequeno, em cima, à esquerda, onde por vezes usa, com a ponta de fora, um lenço bordado pela namorada, dois bolsos em baixo, um de cada lado, oblíquos. A jaqueta é enfeitada por alamares de seda. Cinta preta de merino, calças com cós alto e cintado e sapato fino, completam o conjunto.
No traje do homem do campo podemos encontrar algumas distinções fruto da actividade exercida, ou da época do ano. Genericamente calça botas de atanado grosseiro, calças e colete de cotim. A camisa ou chambre é feita de riscado e lenço ao pescoço ou por baixo do chapéu. Para resguardar as calças usa safões de lona e na cabeça chapéu de abas largas e copa redonda.
Em tempo de chuva usava capote aguadeiro feito de borel grosseiro e os safões de lona que eram substituídos por safões de cabedal. Os pastores distinguem-se pelo uso de safões de lã e samarra do mesmo material. Os alforges em cabedal ou em tecido de lã, eram usados para transportar a merenda, o azeite, o pão, as azeitonas, um pouco de toucinho ou chouriço, etc., mas também os parcos haveres quando em viajem ou nas longas temporadas passadas no campo.