segunda-feira, julho 31, 2006

O Campino - Ribatejo

Desde há muito que se encontram testemunhos sobre a existência dos Campinos nas lezírias ribatejanas, como o comprova este transcrito de Oliveira Martins dos finais do século XIX: "(...) chegamos ao Tejo (...). Nele com efeito o campino nos traz à ideia o tipo dessas raças da África setentrional, Líbios ou Mouros cujo sangue anda misturado nas nossas veias." … "A cavalo, de pampilho ao ombro, grossos sapatos ferrados, gorro vermelho na cabeça, o Ribatejano, pastoreando os rebanhos de toiros nas campinas húmidas e vicejantes, é como um beduíno do Nilo ( ... ) ".
De facto, é muito provável que já existam campinos desde os tempos das primeiras Casas Agrícolas, que necessitavam de pessoas para guardarem e cuidarem dos seus animais.
Depois, com a implantação do Estado Novo em Portugal, o campino até então um mero e simples trabalhador rural, foi transformado num arquétipo social, uma referência simbólica onde a Nação se reconhecia e através do qual se procurava dar às pessoas um motivo de orgulho nacional. Essa transformação reflectiu-se no traje de festa, que mais não passa de uma farda fornecida pelos patrões e devidamente identificada com o monograma da Casa Agrícola, para que os seus campinos os representassem com garbo nas feiras e festas onde se deslocavam com o seu gado.
Assim, distinguem-se claramente dois tipos de trajes:
- a roupa que é usada nos dias de trabalho (no dia-a-dia de um campino) é, regra geral, constituída por jaqueta, colete, cinta preta e calça comprida até aos sapatos;
- e o traje que é utilizada nos dias de festa, que é o que, de forma geral, o público mais rapidamente identifica como sendo do Campino. Este traje de festa é composto por calção com abotoadura lateral e ajustados à perna por botões, seguindo o modelo de traje de corte do sec. XVIII. O colete tem como principal característica a cor vermelha e a configuração do decote que deixa antever a camisa engomada. No traje de campino a camisa é simples, embora com carcela dupla que esconde os botões. Este conjunto é acompanhado por uma faixa vermelha e um barrete verde e vermelho. A jaleca tem a configuração de uma casaca, não sendo abotoada, muito embora se ajuste ao corpo e tenha botões de ambos os lados.
O conjunto dá ao seu utilizador um ar afidalgado e a atitude arrogante de um homem que tem brio na sua profissão e a coragem de enfrentar o touro de lide.
De olhar atento e porte autoritário o Campino assegura-se de que a sua árdua missão seja cumprida: "O gado olha-lhe a vara na campina deserta. É ele (Campino) que o dirige no voltear do cavalo, que o guia, que o conduz."

A sua figura de homem simples do campo, trouxe até ao nosso tempo a memória da funda relação que temos, nestas terras da lezíria, com cavalos e gado bravo. É no campo que tudo começa, nasce, cresce, vive, faz-se. Esse é o mundo do campino, é aí que se sente bem, no meio dos animais.
Muitos dos nossos campinos, que atravessaram mais de metade do século nesta sua profissão, começaram nas tralhoadas, quando os toiros se amansavam para servir na lavragem. Em moços foram rabeiros, assim chamados por trabalharem todo o dia com a rabiça da charrua, e brochavam os animais, forçando-os a admitir a canga.

Era isso trabalho simples, se assim se pode dizer. Porque tarefa difícil, que até custa a acreditar que fosse possível fazer, era levar o gado, através dos campos, os colocar a salva das águas do Rio Tejo, que no Inverno alagavam as terras baixas do Ribatejo. Mais de duzentas cabeças, toiros, novilhos, cabrestos, por três ou quatro dias de caminho, a fugir aos povoados para evitar azares.
Era um ciclo que se repetia, ano após ano, tal qual, seguindo o mesmo caminho, em chegando a Primavera e o regresso no Verão. Ficavam as vacas e os bezerros de mama. Tudo o mais ia-se embora para a imensidão das pastagens mais distantes do rio.
Esta vida de campino não tinha cama nem esteira, não sabia de conforto. Nem de festas, nem de nada. Era trabalho e uns copos, bebidos em grupo pequeno, no meio dos animais. E alguns sustos, às vezes, quando um toiro tresmalhava, ou se deixava furar um cavalo ou se apanhava uma cornada no corpo que Deus lhe deu.
Era uma vida difícil, mas da qual muitos têm saudades.
Se a vida do campino era dura, a da mulher não era melhor, pois cabia-lhe a ela cuidar da casa, dos filhos e ainda o trabalho do campo, suportando os longos períodos de ausência do marido e educando os filho para seguirem as mesmas pesadas do pai.
O traje do dia-a-dia era naturalmente simples, mas resistente, para suportar o desgaste do trabalho do campo. No entanto, é no traje de festa que a mulher do Ribatejo se aplica, apresentado saia rodada através do emprego de largas pregas laterais desenhando maior volume para trás. Sob a saia usa saiote e colotes, que apresentam um ligeiro folho de bordado inglês, conferindo ao conjunto grande requinte. A blusa de gola redonda, rematada com folho de bordado inglês, tal como na carcela e nos punhos. È na confecção do avental que a mulher se esmera, demonstrando os seus dotes de bordadeira, e a sua imaginação na escolha dos bordados e na confecção do modelo. Calça meias de renda branca e sapatos de carneira de cor natural.

6 comentários:

crochetrelax disse...

Boa tarde !
Obrigada amiga por divulgar um pouco da nossa cultura, sou Ribatejana, e adorei ver esta sua exposição.
Estou a iniciar um blog,(sou muito inexperiente),se me fizer uma visita ficarei contente.
Beijos
http://crocherelax.blogspot.com/

Anónimo disse...

Olá bom dia gostava de lhe pedir o favor de me dizer se é correcto utilizar o nome campina para denominar a mulher do campino?
Agradeço lhe desde ja a sua atenção.
E já agora parabéns pelo blog

Anónimo disse...

O traje a que foi atribuido o nome de campina é na realidade um traje de festa/domingueiro da região de Almeirim.

Carlos Cardoso

Rui disse...

Sugestao: Colocar contactos de empresas que fabriquem estes trajes!

Unknown disse...

Qual é o tamanho da vara que usa o campino a cavalo?

Carlos Cardoso disse...

A vara do campino tem cerca de 2,5 metros